domingo, 1 de março de 2020

“Minha mulher não admite que eu pense e viva diferente do jeito dela”

“Estamos casados há quatro anos e temos um filho. Poderia ser tudo ótimo, mas nossa vida não está nada fácil. A minha mulher não admite que eu tenha uma forma de pensar e viver diferente do que ela imagina ser a forma certa. Sou cobrado o tempo todo a ver as coisas do jeito dela. Já tentei conversar com ela várias vezes, mas não adianta. Nossas conversas sempre acabam em briga.”

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Parece simples, mas é importante lembrar que o amor não dá qualquer direito sobre o outro. Em muitos casos a vigilância e a invasão na vida do parceiro são vistas como natural. Não são poucos os que aceitam a obrigação de ser e agir a partir de um código, muitas vezes, expresso através de um “nós” ou “a gente”, definido exclusivamente por um dos cônjuges.

“O ser humano está nos primórdios da comunicação, apenas no limiar de abandonar a etiqueta destrutiva, o fútil jogo das aparências.”, afirma o historiador inglês Theodore Zeldin. Para ele, o ruído do mundo é feito de silêncios, na medida em que é muito difícil a verdadeira comunicação entre as pessoas. Há incompreensão e desentendimento nas conversas.

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Na maior parte dos encontros, orgulho ou cautela ainda proíbem alguém de dizer o que sente no íntimo. Zeldin acredita que precisamos desenvolver, não simplesmente a arte de falar, mas a verdadeira arte da conversa, que, esta sim, é capaz de mudar as pessoas. Estamos nos primeiros estágios de aprendizagem de como se falar com outro. Estamos na infância da comunicação.

Ele considera uma boa conversa estimulante e irresistível; não é só transmitir informações ou compartilhar emoções, e tampouco apenas um modo de colocar ideias na cabeça de outras pessoas. Toda conversa é um encontro entre espíritos que possuem lembranças e hábitos diversos. Quando os espíritos se encontram, não se limitam a trocar fatos: eles os transformam, dão – lhes nova forma, tiram deles implicações diferentes, empreendem um novo encadeamento de pensamentos.

“Conversar não é apenas reembaralhar as cartas: é criar novas cartas para o baralho. O aspecto da prática da conversa que mais me estimula é o fato de poder mudar os sentimentos, as ideias e a maneira como vemos o mundo, além de poder mudar até mesmo o próprio mundo.”, conclui Zeldin.


“Minha mulher não admite que eu pense e viva diferente do jeito dela” publicado primeiro em https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/

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